Mineira traz a roça da infância para um centro badalado da Flórida
Por Chris Delboni | Coluna Direto de Miami @ http://colunistas.ig.com.br/diretodemiami
Editora: Liliana Pinelli
Fotos: Carla Guarilha
Editora: Liliana Pinelli
Fotos: Carla Guarilha
Quando a mineira Regina Kátia chegou na Flórida em 1992, passou a morar numa quitinete no centro de Fort Lauderdale, a poucos quilômetros de Miami, com Elizeu, seu marido, e um filho pequeno, Caio, que hoje está com 25 anos. Elizeu vendia verdura numa feirinha e Regina cuidava da casa e trabalhava em casas de família.
Estavam construindo uma nova vida, mas ela tinha tanta saudade do Brasil que a única forma de controlá-la foi alimentando-se da nostalgia da infância e construindo no fundo da casa um fogão a lenha.
Hoje, o casal, Caio e Matthew, o filho mais novo que nasceu aqui e está agora com 19 anos, vivem numa casa própria, que foi tombada pelo patrimônio público americano. Mas é a herança da cultura brasileira que alimenta o corpo e a alma de muitos outros saudosos brasileiros na região de Miami.
“Não esqueço minhas raízes”, diz Regina Kátia Martins Rodrigues, que agora com 50 anos se sente mais jovem do que nunca. Todo sábado, ela recebe 60 ou 70 convidados na sua “fazendinha” para uma noite que só traz boas memórias da juventude na roça de Coronel Fabriciano, em Minas Gerais.
“Eu nasci numa fazenda”, diz ela. “Eu ia ao curral pegar leite de vaca e vivia a vida do povo”. E é essa vida para o povo da comunidade brasileira que Regina busca resgatar.
Na “Fazendinha” tem galinha solta, galo cantando e criança brincando.
É como um parque de diversão, só que neste caso, a diversão é a simplicidade da vida na roça do Brasil.
Regina começa a cozinhar cedo no fogão construído pelas mãos do marido, enquanto Elizeu prepara o terreno, literalmente, e coloca nas caixas de som um forró para animar o ambiente desde cedo.
O cardápio do dia inclui sempre três pratos principais, entre vários da especialidade da casa: frango ensopado, quiabo, rabada, escondidinho de mandioca, carne seca, couve, angu, chuchu, arroz carreteiro, galinhada, vaca atolada (carne de sol, feita em casa, desfiada com mandioca), moqueca de peixe, caldo verde, caldo de feijão, canjiquinha com costelinha de porco, angu com carne moída e milho verde, baião de dois – e muito mais. Fora isso, os anfitriões oferecem caldo de cana moída na hora, pão de queijo assado na hora e pastel e biscoito de polvilho fritos na hora. De sobremesa tem sempre pudim de leite, bolo de fubá ou uma canjica de milho, entre outras opções. E claro, o café é passado fresquinho no coador. O preço é único: US$12/adulto e US$6/criança.
“Quando os brasileiros chegam e o galo canta, eles fecham os olhos, ouvem a música e dizem, ‘parece que estou no Brasil’”, diz ela. “Meu marido se envolve do mesmo jeito. O Elizeu me inspira”.
E é essa inspiração — e união e cumplicidade — que está transformando o sábado na “Fazendinha” numa tradição que resgata não só a cultura brasileira, mas traz de volta – por alguns instantes – uma época em que a vida familiar era valorizada e o momento da refeição respeitado.
E isso, para Regina, é o que alimenta hoje seu dia a dia e acalma um coração saudoso de sua terra.
Mas essa trajetória não foi fácil.
“Eu sofri muito, queria ir embora, chorei muito. Foi horrível”, diz ela. “Você não imagina o que é a saudade, mata a gente, me definhou, me trouxe angústia. Eu ficava na cama, não queria aprender a língua. Eu não queria nada”.
Regina trabalhou muitos anos como motorista de ônibus escolar e foi cozinhando numa escola que começou a se encantar, cada vez mais, com o fogão e pediu que seu marido construísse um a lenha para ela.
Elizeu, cearense de Fortaleza, hoje dono de uma empresa de jardinagem e pastor de uma igreja americana, vizinha de sua casa, imediatamente concordou. E logo que ficou pronto, o casal passou a convidar a todos depois do sermão aos domingos para um almoço na “fazendinha”.
“As mulheres da igreja me chamam de ‘First Lady’ (Primeira-Dama). Todas são negras americanas”, diz Regina. “Agora nossa igreja é internacional: tem brasileiro, mexicano e muitos negros americanos”.
Hoje, a “Fazendinha” continua atendendo aos fiéis e amigos, mas tem também uma clientela fixa para os jantares aos sábados e pretende, em breve, aumentar as horas de atendimento, que para Regina, representa uma benção divina.
“Claro que eu sofri, claro que Elizeu sofreu”, diz ela. “Eu já limpei muita casa aqui. Mas eu sabia que um dia ia encontrar aquilo que eu gosto de fazer. A gente tem que perseverar, não jogar tudo para o alto e desistir – porque vai dar certo. Eu sonhei e deu certo”.
Para conhecer melhor a “Fazendinha”, visite sua página no Facebook: Regina’s Farm ou ligue (954) 465-1900, na Flórida.
No vídeo, Regina conta o segredo do seu sucesso: